🔵Fundamentação teórica
Atualizado
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A descoberta do talento emergente no desporto tem motivado vários investigadores a aprofundar neste campo de conhecimento, embora as conclusões obtidas atualmente permaneçam ambíguas (Till e Baker, 2020). Enquanto um corpo teórico começa a se formar em torno da definição, identificação e desenvolvimento do talento, a aplicação desses termos na Educação Física (EF) ainda é uma tarefa pendente e complexa. A importância que esta área curricular adquiriu no processo de identificação de um talento motor jovem tem sido destacada em vários modelos, como o modelo de Bloom (1985), Côté (1999) e Collins et al. (2012). Todos esses modelos enfatizam a relevância desta área curricular como o primeiro momento de triagem realizado pelos professores. No entanto, acima de tudo, deve-se mencionar o modelo de Bailey e Morley (2006), no qual adaptaram os termos e conceitos usados para crianças superdotadas e talentosas nas escolas britânicas (Bailey et al., 2004) à área de EF, combinando perspectivas sobre a identificação de talento na educação, desporto e EF (Croston, 2013). Os próprios autores do modelo fizeram uma clara distinção entre EF e desporto, baseada nos diferentes objetivos que esses contextos perseguem. Assim, a EF é uma disciplina curricular ministrada por especialistas em escolas, enquanto o desporto é uma atividade específica e competitiva que pode ser desenvolvida fora do horário escolar em clubes desportivos (Mountakis, 2001). No contexto da EF, o potencial talento motor da criança pode ser observado de maneira multidimensional (física, criativa, social e cognitiva), indo além da identificação de talento apenas em aspectos físicos e/ou condicionais (Kirk e Gorely, 2000).
É precisamente por esta última razão que não se deve confundir o talento desportivo com o talento em EF. Enquanto o primeiro conceito se relaciona com aspetos específicos inerentes a cada modalidade desportiva (tomada de decisões rápidas e adequadas, velocidade de execução, gesto técnico-tático correto), o termo talento em EF implica um domínio superior na maioria dos blocos de conteúdo presentes na área, desde a iniciação desportiva até à expressão corporal, abrangendo habilidades motoras básicas e condição física (Contreras-Jordán e Prieto-Ayuso, no prelo; Mountakis, 2001).
Estudios recientes concluem que o conhecimento dos professores de EF sobre como realizar processos de identificação e desenvolvimento do talento motor em suas aulas é praticamente inexistente (Croston e Hills, 2017; Prieto-Ayuso et al., 2020), assumindo principalmente que os alunos que se destacam em testes físicos e jogos de bola são os mais potencialmente talentosos (Aasland et al., 2019). Recentemente, Prieto-Ayuso et al. (2022) aprofundaram nas percepções dos professores sobre este tema, constatando as dificuldades existentes que os docentes enfrentam, a confusão terminológica e a falta de recursos para realizar esses processos.
Um dos principais motivos desse fato é a escassa formação dos professores para a identificação desse tipo de aluno (Croston, 2013). Atualmente, apesar da grande quantidade de instrumentos para identificar talento desportivo (González-Víllora et al., 2015), são muito raros aqueles focados no talento na área de EF.
Por isso, com o objetivo de evitar qualquer injustiça social e educativa em relação a esses alunos nas aulas de EF, e com o propósito de oferecer aos professores um novo recurso educativo focado nos alunos talentosos em EF, o principal objetivo tem sido fornecer aos professores de EF uma ferramenta simples e válida para realizar a avaliação das altas capacidades nesta área curricular.