Correlação com o Bullying
Atualizado
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O ensino de habilidades sociais é o fundamento para uma convivência saudável entre crianças e adolescentes; essas habilidades podem ser aprendidas e desenvolvidas da mesma forma que as habilidades acadêmicas e é necessário fazê-lo de forma sistemática. A escola e a família têm possibilidades de intervenção preventiva ou corretiva para aumentar a empatia entre os membros de um grupo. Neste diagnóstico, não só aparecerão as tendências pessoais, mas também a forma de orientá-las positivamente.
Atualmente, nos ambientes escolares de todo o mundo, existe uma preocupação crescente sobre o fenômeno do bullying (intimidação escolar), especialmente quando pais e professores se sentem impotentes para resolver este problema de convivência, cuja origem não é clara. Quem é o responsável: a escola ou a família? A estrutura da sociedade atual provoca o bullying? Qual a influência dos meios de comunicação nos problemas de convivência? É um problema apenas do agressor? Quando podemos falar de bullying e quando é apenas uma situação de falta de harmonia na convivência? E, principalmente: o que fazer?
Nesta ferramenta, pretendemos dar uma resposta inicial a essas perguntas. A plataforma Habilmind inclui informações adicionais e metodologias de intervenção.
O nível de agressividade e sua derivação para o bullying é o resultado da combinação de diferentes tendências pessoais: altos níveis de ritmo rápido de vida, proatividade e dominância.
A agressividade bem orientada é um fator útil e se traduz em combatividade natural, importante para enfrentar as dificuldades da vida e superar obstáculos na conquista de um objetivo saudável. A competição saudável que aparece como um sentido de superação, de busca de melhores horizontes pessoais, esportivos ou profissionais é uma ramificação da agressividade. A capacidade de superar fracassos temporários e assumir as próprias fraquezas sem ser vítima delas é outra forma de manifestação da agressividade.
No entanto, também pode se transformar em hostilidade, que, no caso de crianças e adolescentes, se manifesta como "bullying" ou intimidação social. A diferença entre agressividade e bullying não está na origem, mas no objetivo e na orientação.
Este fenômeno social é um comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica; é uma ação de prevaricação individual ou social exercida de forma contínua, por parte de uma pessoa ou grupo de agressores contra uma vítima predeterminada. Não se trata dos conflitos ou disputas normais que ocorrem entre os jovens, mas da aplicação preordenada e sistemática de violência física e/ou psicológica contra colegas fracos ou incapazes de se defender, frequentemente os levando a condições de sujeição, sofrimento psicológico, isolamento ou marginalização.
O agressor não encontra a contenção necessária para sua impulsividade e agressividade em um contexto no qual se sente à vontade e parece que não há regras ou sanções significativas. Além disso, ele não encontra adultos que o escutem e o ajudem a tomar consciência e sair do seu roteiro, por meio de relações sociais mais construtivas.
No bullying, perseguidores e vítimas carecem de habilidades relacionais porque não as desenvolveram individualmente ou porque não tiveram a oportunidade de se sentirem incluídos em contextos educativamente caracterizados.
Nas instituições escolares, os professores devem manter uma atenção constante na canalização dessa energia intensa acumulada para dar uma polaridade positiva às crianças e adolescentes.
Na infância e adolescência, são formadas as estruturas sociais que influenciarão as relações pessoais e profissionais futuras. Por isso, é muito importante detectar as raízes dessas tendências para promover laços saudáveis, um dos objetivos centrais da educação.
Neste grupo de tendências pessoais, analisa-se o nível de submissão perante pessoas ou situações; também se detecta a posição emocional em relação a figuras de autoridade ou pessoas intensas, veementes ou dominantes. As reações frequentes incluem: timidez, silêncio, absorção da situação, medo ou confusão mental para encontrar respostas eficazes.
Responde com silêncio e introversão diante da dor ou desconforto e dá a impressão de que não se importa ou não é afetado pelo que acontece, quando, no fundo, é um bloqueio da resposta emocional. Se o ambiente for insensível ou cruel, incita à zombaria, sarcasmo e ampliação da causa que provoca a dor.
O sistema de crenças que sustenta o nível de intimidação-vitimização gera sentimentos de impotência e inferioridade diante dos desafios ou estímulos do ambiente; considera que o mundo exterior está permanentemente contra ele; assume uma autocensura crônica; a pessoa se desqualifica quando tem que tomar decisões ou discordar de opiniões; a insegurança que deriva dessas condições provoca comportamentos errôneos que reforçam o sistema de crenças: um círculo vicioso constante.
Se essa tendência não for adequadamente tratada, pode projetar sua dor na provocação de pessoas mais fracas ou indefesas, como uma forma de válvula de escape. Por isso, é importante intervir precocemente, assim que esse perfil for detectado. A frustração contínua gera fortes cargas de ira que podem se traduzir em explosões de hostilidade.
A intimidação-vitimização produz gestos, posturas e expressões faciais que são visíveis para os outros, mas inconscientes para o sujeito. Na fase da infância e adolescência, quando a socialização é primitiva e não tem referências, é comum que se iniciem circuitos negativos de intimidação. Desde o primeiro dia de aula, as crianças ou adolescentes percebem esses sinais não verbais e reagem com comportamentos negativos. As mensagens inconscientes de intimidação provocam as reações dos mecanismos latentes de bullying. Esse circuito não dispensa a necessária intervenção educacional em ambos os polos de reação.
Propomos as tendências pessoais como polos de enfoque da vida, comportamentos ou atitudes que assumimos diante de diferentes estímulos.
Nenhuma tendência é negativa ou positiva em si mesma, mas adquire seu valor pelo equilíbrio entre a força das qualidades e a diminuição das deficiências. O trabalho educacional consiste em ensinar as crianças ou adolescentes a aproveitar os pontos fortes de suas tendências e limitar as áreas negativas.
O ritmo de vida refere-se ao tempo investido entre a percepção de um estímulo e a resposta que damos. Na cultura atual, valoriza-se exageradamente a rapidez e equipara-se com eficácia; no entanto, a lentidão de resposta está relacionada à reflexão e à moderação para reunir a informação necessária e processá-la com maior consciência das causas e efeitos. O ritmo de vida normalmente é condicionado pela genética (nascemos rápidos ou lentos em nossas reações), embora seja possível modificar o ritmo com trabalho sistemático.
A característica de autonomia refere-se à capacidade de aprender ou trabalhar com base em critérios próprios, individuais, ou à tendência de seguir normas e convenções sociais, especialmente baseadas em um princípio de autoridade.
Em um extremo está a autossuficiência, que é a inclinação natural para agir por iniciativa própria, com tempos e ritmos pessoais, ignorando muitas vezes ordens ou procedimentos estabelecidos. Desde a infância, a independência com que agem e decidem é evidente, ignorando frequentemente as instruções dadas. Essa característica pode gerar problemas de obediência, e quanto mais se busca submissão, maior é a insurreição. Consideram a negociação prioritária quando as ideias vêm de outra pessoa. A vitalidade e a energia geralmente são intensas, resultando em conflitos interpessoais frequentes.
O fator de autonomia tem uma função importante no tipo de liderança gerada: a liderança derivada da dependência é colegiada, compartilha opiniões e ouve a maioria, normalmente buscando consenso e aprovação. A liderança proveniente da autonomia é autocrática, dominante e firme. Se houver outras pessoas de estilo semelhante no grupo, surgem confrontos frequentes devido ao choque de personalidades.
No extremo oposto está a dependência, que valoriza uma estrutura clara e definida de funções e organograma de operatividade. A iniciativa e a criatividade não são características dominantes; em vez disso, a atitude é de expectativa e obediência às instruções, costumes e procedimentos estabelecidos. Respeita hierarquias e seu equilíbrio emocional depende do ambiente ao seu redor, criado por pessoas relevantes.
No aspecto intelectual, considera as opiniões e julgamentos de pessoas a quem dá valor antes de formar seu próprio critério ou tomar uma decisão. Sabe ouvir os outros e não discute se há diferenças de opinião.
O fator de responsividade marca a tendência da personalidade humana ao enfrentar situações desconhecidas ou difíceis; as condições ou estímulos que enfrentamos ativam automaticamente um ambiente emocional interno de segurança ou insegurança; essa resposta, por sua vez, ativa pensamentos, sentimentos e comportamentos coerentes com o nível de confiança experimentado.
Este componente das tendências pessoais é formado por diferentes fatores:
Sistemas de crenças sobre a própria capacidade (autoconceito, autoestima); percepção da situação ou desafio enfrentado (sensação prévia de sucesso ou fracasso).
Experiências anteriores relacionadas à situação ou desafio: se já se experimentou anteriormente uma resolução adequada, o indivíduo possui um histórico que ajuda a enfrentar novos desafios com maior probabilidade de bem-estar. Da mesma forma, se as condições anteriores não foram resolvidas eficazmente, diminui-se a possibilidade de enfrentar novos desafios com segurança.
Nível de feedback: as pessoas relevantes reforçam positiva ou negativamente o nível de confiança, pois influenciam significativamente os sistemas de crenças. As mensagens recebidas de figuras de autoridade moral costumam se transformar em programações que se ativam automaticamente quando nos encontramos em situações equivalentes.
Condições genéticas provenientes da força psicológica: pessoas com uma personalidade mais suave tendem a perceber a realidade com mais perigos; por isso, cuidam de sua postura com previsão, buscando meios de apoio e aliados.
A combinação desses fatores gera uma postura de proatividade ou reatividade.
A segurança se caracteriza por um enfoque proativo diante dos problemas; não adia o enfrentamento dos desafios ou dificuldades, mas se estimula diante deles e os resolve com confiança e firmeza. Pode até chegar à "pronoia": postura de confiança excessiva que não considera riscos nem prevê possíveis contratempos. Embora a segurança pareça ter apenas conotações positivas, não é assim: sobretudo em situações desconhecidas, é necessário ter uma dose de insegurança para antecipar perigos e planejar alternativas em caso de erro.
Quando o nível de proatividade é alto, também pode gerar atitudes temerárias que se reforçam quanto mais perigos são enfrentados, especialmente físicos. Confiam exageradamente na sua boa sorte e minimizam o efeito das experiências negativas, parecendo não aprender com os erros.
O futuro ou situações desconhecidas atraem pessoas com alto nível de confiança, que evitam sistematicamente a rotina ou repetição de atividades.
O alto nível de reatividade gera suspeitas diante de situações ou pessoas desconhecidas; as experiências negativas reforçam as dúvidas internas e as defesas contra o que pode ser considerado uma ameaça apenas por ser desconhecido. Necessita de provas objetivas e contínuas de segurança para "baixar a guarda". Essa situação diminui a atenção plena aos assuntos objetivos, direcionando-a a perigos imaginários.
Esse perfil lida com sensatez e prudência em questões complicadas, embora não funcione bem em conflitos ou sob condições de urgência ou improvisação, a menos que estejam relacionadas a experiências passadas. Precisa ter um plano preestabelecido para agir em novas situações, caso contrário entra em confusão e gera angústia por não ter um modelo de ação. Sua dependência de padrões para interagir o torna previsível e estável. Não gera nem participa de conflitos, sendo um elemento facilitador nos grupos de trabalho.
Pensa muito no futuro e pretende manter, pelo menos, o que atualmente desfruta; é previdente e econômico, prefere ter uma visão clara das perspectivas e evita mudanças sem planejamento; considera as consequências das ações e os detalhes dos passos a serem dados.
Com frequência, espera que "as situações melhorem" e deixa fatores fora de sua influência decidirem o rumo dos acontecimentos. Quando não assume a direção dos fatores de mudança, corre o risco de ser vítima "do destino ou da má sorte".
A assertividade é a quantidade de energia psíquica que aplicamos para controlar situações ou pessoas; esta característica é fundamental para marcar a diferença entre a hostilidade e a submissão, afetando especialmente as relações sociais, a integração em grupos e a intensidade para enfrentar conflitos. Dado que as diferenças pessoais entram em jogo constantemente, é necessário conhecer os mecanismos comportamentais que condicionam a possibilidade de assumir o controlo da própria vida sem ser manipulado ou manipular os outros. Esta característica também incide na forma como uma pessoa se relaciona com o ambiente: influências dos grupos de colegas, meios de comunicação de massa, tendências sociais, reações à liderança.
A capacidade para negociar faz parte essencial da assertividade, pois intervém a flexibilidade para obter os próprios objetivos respeitando os direitos e necessidades da outra pessoa, expressando os sentimentos e cuidando da sensibilidade dos outros. Este equilíbrio entre o respeito a si mesmo e aos semelhantes leva a estabelecer o contexto adequado para a negociação, onde o princípio de "eu ganho-tu ganhas" é a base da equidade. Se este princípio é alterado e alguém perde, surge um segundo ato para saldar contas pendentes, que gera uma espiral negativa interminável. A neurose encontra nestas condições o terreno propício para crescer e contaminar a vida das pessoas.
"A aceitação e o uso adequado da própria força psicológica afeta também o sentido de autoestima e do próprio sistema de crenças. As pessoas que se consideram inferiores agem com submissão e julgam impossível a expressão de algumas emoções, chegando, inclusive, a cancelá-las; inclinam-se com humilhação perante os desejos dos outros e encerram os próprios desejos no seu interior; como não aceitam controlar a própria vida, sentem-se cada vez mais inseguros e aceitam, além disso, esse estado de insegurança". ("Não diga sim quando quer dizer não". H. Fensterheim)
Uma pessoa com a assertividade bem calibrada comunica clara e firmemente os seus desejos ou necessidades e está preparada para reforçar as suas palavras com ações apropriadas. Maximiza o seu potencial e utiliza-o para conseguir que os seus pedidos sejam satisfeitos, sem violar os interesses dos outros.
Quando a assertividade sai do controlo e exagera a sua intervenção, gera a hostilidade, que é uma degeneração contaminada pela ira e pela vingança; esta mistura gera uma série de condutas de marcada intensidade:
Utilização de violência verbal: gritos, ameaças, insultos, generalizações indevidas.
Manipulação: em casos de tensão, utiliza o medo em todas as suas formas como um meio para controlar as pessoas.
Severidade no uso da autoridade: imposição irracional de critérios, decisões ofensivas para os outros, estabelecimento unilateral de tempos e metas.
A parte negativa oposta à hostilidade é a submissão ou passividade perante os estímulos do ambiente: a pessoa submissa aceita condições irracionais e contrárias à sua convicção ou dignidade, não pede o que necessita ou merece, não aceita o seu valor pessoal, considera-se um receptáculo natural de maltrato ou abuso. As manifestações mais comuns deste polo negativo da assertividade são:
Tendência à humilhação e à negação dos próprios talentos e necessidades; não pede, só aceita; não oferece, só espera.
Aceitação do abuso e silêncio perante a irrupção desconsiderada de outras pessoas.
Timidez, insegurança, medo que prende as suas capacidades.
Ira contra si mesmo por não enfrentar proativamente as situações da vida.
Na sua fase terminal, a assertividade descontrolada costuma estar na base do bullying entre crianças e adolescentes: a tendência passiva ou submissa convida o agressor e expõe a sua fragilidade com sinais manifestos de vulnerabilidade; em contrapartida, o agressor procura a personalidade frágil e indefesa para dar saída à sua emotividade distorcida e à sua insegurança reativa.